domingo, 5 de julho de 2015

Rei Gelado



“A minha alma está cansada da minha vida”
 Livro do Desassossego


O vento castigava. Seu sopro gelado chicoteava a pele e sua sádica ousadia congelava até a alma. Mãos no bolso do casaco alimentavam a ilusão de um dia poder aquecê-las... Poças de água escondidas... As juntas tiritavam, roxas, o corpo esquelético em semi-convulsão por pouco não faiscava tamanho o atrito. Camada sobre camada, uma mais molhada e fria que a outra. Rei Gelado, perdido em pensamentos no reino da desesperança... A tristeza tornou-se uma fiel escudeira, afinal, ela não se incomoda com o vento satânico muito menos com a patética presença, pré-hipotérmica, que arrastava-se... Vazia e enegrecida pelo amargor dos dias... Vida mundana, brutal, impiedosa; Testa seus melhores guerreiros, até o limite, e os faz implorar por misericórdia (as lágrimas escorrem como a água escorre pela torneira aberta), “piedade sua vadia”... A Vida ri e ironiza: “Coragem cordeirinho! Coragem!”... A Luz da sanidade parece tremeluzir (vai apagar?)... Paz é estar bem consigo mesmo quanto o caos rodopia á sua volta... Mas, e quando o caos também está por cima, por baixo, pelos lados... Dentro? Acho que para alguns atormentados, paz não é uma opção... 

“I'm gonna marry the night
I won't give up on my life
I'm a cold King
Live passionately tonight

I'm gonna marry the dark
Gonna make love to the stark
I'm a soldier to my own emptiness
I am a winner"


Enrijecido, Dr. Freeze sofre para mover-se, como um zumbi que arrasta seu corpo cadavérico a esmo pelas ruas... Guiado apenas por um instinto primitivo, mais forte do que a sua própria vontade... Até onde? Ás vezes, sinto que minha alma está cansada da minha vida! Sempre assim... Nos braços do nada... Um leve desejo de explodir em chamas índigo... Quente... Queimar os dedinhos gélidos e assanhados do vento, e a "cara" dessa vidinha filha da puta... Derreter todo o gelo, e brilhar como Neon: "Open for Pleasure! I don't cry anymore!"... Oun... “Coragem cordeirinho! Coragem!”.